Até os dias atuais, sucederam diversos acontecimentos que mudaram a história, porém, todos os grandes fatos que tiveram consequências posteriores para a humanidade, apresentaram alguma relação com crises econômicas.
A intenção desse artigo é indicar que a economia foi sempre um dos principais fatores para as rupturas nas políticas mundiais. É a característica que mais aparece nessas mudanças na política mundial, mas não se pode isolá-la de outras características, que contribuíram para as alterações nas estruturas de diversas nações.
Na Era Moderna e Contemporânea, houve exemplos de mudanças históricas que foram antecedidas por uma crise econômica. A Era Moderna seria o marco, devido o surgimento do capitalismo. No entanto, desde a Antiguidade, já havia alterações politicas nas regiões por causa de processos econômicos, como a derrocada das cidades gregas e a vitória de Alexandre o Grande, a queda do Império Romano, as Cruzadas e diversos outros exemplos.
O capitalismo seria o marco, devido à competitividade dos Estados Modernos propiciando a criação do moderno capitalismo como assinala Max Weber: “Nem o comércio, nem as políticas monetárias dos Estados Modernos […] podem ser compreendidos sem essa singular competição e equilíbrio político entre os Estados” (WEBER, Mas. Wirtschaft und Gesellschaft, 1978. In: ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: Dinheiro, Poder e as Origens do nosso tempo, 2012)
Quando alguns países passam por mudanças no seu governo, isso tem como característica períodos de grande crise econômica, onde a insatisfação da população por não terem condições financeiras adequadas, provocam um descontentamento geral e como consequência, existe a busca de uma ruptura com a política vigente, e essas mudanças normalmente ocorrem através de guerras.
Essas mudanças normalmente acontecem quando se tem Independências e as chamadas Revoluções. Segundo diversos autores, o conceito de Revolução, significa uma mudança nas estruturas políticas, econômicas e sociais. É nesse contexto que serão analisadas algumas dessas Revoluções, que aconteceram em diferentes períodos da história, mas que tiveram como uma das principais causas a crise econômica.
Nesse sentido, podemos citar diversos exemplos, como, a Independência dos EUA, Independências da América Espanhola, Revolução Francesa, Revolução Cubana, Revolução Chinesa e a Revolução Russa. Abaixo será analisado alguns exemplos.
Revolução Francesa
A França passava por uma grande crise econômica no final do século XVIII, quando a Inglaterra já tinha iniciado o seu processo industrial, e os franceses ainda mantinham práticas muito parecidas com o período feudal, como o domínio da área rural sobre a urbana, privilégios como o não pagamento de impostos do Clero e Nobreza.
Essa crise se agravou com o problema agrário que a região enfrentava, devido a um clima inadequado para agricultura, uma das principais fontes de renda da população. O povo passava dificuldades com alimentação, pois o preço dos alimentos subiam e só quem tinha boas condições financeiras conseguia se alimentar.
Outro aspecto dessa crise financeira acontecia por causa das dívidas de guerra que os franceses enfrentaram, como a Guerra dos Sete Anos e a Independência dos EUA.
Todos esses conflitos provocaram um custo enorme, e os franceses em 1789, ainda não tinham se recuperado, pesando ao Estado francês e a população local. A falta de pagamento de impostos pelo Clero e Nobreza, foi o grande fator para o início da Revolução Francesa, o chamado “Terceiro Estado” (Povo + Burguesia) estava insatisfeito com a obrigação de arcar com todas as despesas do País. Nesse aspecto começaram a pressionar o Rei Luís XVIII, para por fim a esses privilégios.
Pirâmide Social da França antes da Revolução
Quando Luís XVIII convocou a Assembleia Geral, órgão que não era convocado desde o início do século XVII, a França discutia os problemas que estavam enfrentando, e nesse momento, o “Terceiro Estado”, aproveitou para pressionar o Rei a por fim aos privilégios da Nobreza e Clero. Como isso acabou não ocorrendo, Burguesia e Povo se desligaram da Assembleia Geral e iniciou a criação da Assembleia Nacional Constituinte, pondo fim ao Absolutismo na França com a Revolução Francesa.
Assembleia Geral
A Revolução Francesa, nesse aspecto, ocorreu por uma insatisfação popular com a crise econômica que a França vinha passando, devido às guerras, fome e os impostos que provocavam um caos social.
Revolução Russa
A Rússia, no início do século XX, tinha características muito diferentes dos modelos existentes em outros países. Nesse período, a Europa lutava pelo expansionismo nos continentes Africano e Asiático, devido o crescimento na produção dos produtos industrializados, tendo como consequência a necessidade de buscar matéria prima e mercado consumidor nessas regiões. A Rússia, mesmo fazendo parte desse processo, era um país com características agrícolas e com poucas indústrias.
Neste período, a Rússia já vinha passando por uma insatisfação popular que se agravava com o aumento das dificuldades econômicas, devido a acontecimentos externos, como a Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
A Guerra Russo-Japonesa foi uma das causas do aumento das manifestações, devido o gasto com a guerra e a derrota para os japoneses. A consequência para esses fatos foi uma onda de greves e manifestações da população contra a forma de governo do Czar Nicolau II, que teve como maior acontecimento o Domingo Sangrento, onde diversas pessoas foram mortas quando se aproximavam do Palácio de Inverno do Czar. Esses acontecimentos serviram de estopim para a Revolução de 1905, propiciando a criação de uma Monarquia Constitucional no País.
Domingo Sangrento
A Rússia entra na Primeira Guerra Mundial após a morte do príncipe herdeiro do Império Austro-húngaro em Sarajevo e a declaração de guerra do Império contra a Sérvia, no qual a Rússia tinha uma aliança com essa nação.
A Grande Guerra que muitos acreditavam que teria uma curta duração, durou muito mais tempo que se havia pensando e isso, para a população da Rússia, foi motivo de descontentamento, devido ao aumento da crise econômica do país, que sofria com a falta de alimentos. O povo responsabilizava a manutenção da nação na Guerra, como o motivo pelo agravamento da crise econômica.
Através das manifestações populares, em Fevereiro de 1917 acontece à primeira das Revoluções feita pelos Mencheviques, conseguindo retirar do poder o Czar Nicolau II, porém os Mencheviques se mantem pouco tempo no poder. Em Outubro de 1917, os Bolcheviques assumem o poder e retiram a Rússia da Primeira Guerra Mundial, assinando o Tratado Brest-Litovsk com os países da Tríplice Aliança (Alemanha, Itália e Império Austro-húngaro) e transformando a nação em socialista, forma de governo que durou até o fim da URSS em 1991.